Desde janeiro, empresas francesas estabelecem horários determinados de conexão ao celular e à Internet. É o Direito a Desconectar. Saiba mais.

A hiperconectividade chegou sem regras e sem pedir licença.Neste ambiente sem regramento, os comportamentos sociais foram sendo moldados e já refletem muitos abusos.
A necessidade de legislar esse ecossistema digital vem sendo vista em alguns países. A França, sempre na vanguarda das questões trabalhistas, já conquistou o seu.E lá, desconectar é um direito.
Como esse direito será respeitado?
Desconectar no trabalho
O direito dos franceses de desconectar do trabalho está em vigor desde 1º. de janeiro.
Lá, empresas com mais de 50 funcionários, em comum acordo, devem estabelecer horários determinados de conexão ao celular e à Internet.
É direito dos empregados desfrutar de 11 horas de descanso entre duas jornadas de trabalho.
E as iniciativas são as mais diversas.
Além da França, municípios da Catalunha (Espanha) e a gigante empresa Volkswagen na Alemanha estão adotando medidas desse tipo.
A ideia é recuperar o tempo fora do escritório.
Traduzindo: resgatar a humanização da vida, deixando a rotina do trabalho para trás.
A batizada de Rede de Cidades e Povoados pela Reforma Horária, na Espanha, prevê que as empresas não marquem reuniões para depois das 16h e não podem ser enviados e-mails a partir das 18h.
A Volkswagen por exemplo, firmou um bloqueio de acesso ao e-mail do celular entre 18h15 e 7h da manhã seguinte.
E no Brasil, esse direito existe?
Ainda muito imperceptível.
E sem uma lei específica, o que existe no Brasil é uma alteração na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).
Essa mudança promove uma equiparação entre estar fisicamente no trabalho e o estar disponível por meios eletrônicos.
Exemplificando, quando o empregador mandar e-mail ou mensagens fora do horário regular de expediente e ainda obrigar o empregado a responder, a justiça brasileira considera como hora extra.
E neste ambiente, muitas ações podem ser cobradas na justiça.
Conheça algumas delas
Quando há obrigação de responder, o profissional pode entrar na Justiça pedindo a indenização pela hora extra e também pelo regime de sobreaviso.
Esse regime prevê que quando há a necessidade de estar à disposição da empresa fora do horário de expediente, o funcionário já deve ser remunerado.
Outra situação que pode render uma indenização, é quando a cobrança no trabalho resultar em estresse comprovado, ou em problemas familiares.
Isso pode ser buscado junto à justiça uma indenização por danos morais.
Outra importante situação onde é possível recorrer à justiça, é quando o empregado não responder aos e-mails após o horário de trabalho e isso gerar um clima de “mal visto” pela empresa.
Mas o que realmente causa esse desconforto?
Estresse antecipatório
Um estudo chamado Exaustos, Mas Incapazes de Desconectar realizado nos Estados Unidos por alunos da Universidade Tecnológica da Virgínia esta dando o que falar.
A pesquisa esclarece que não é apenas a necessidade de dedicar tempo a responder e-mails em horários impróprios que faz mal, mas o “estresse antecipatório”.
Esse estresse é gerado pela expectativa de receber um e-mail e o fato de ter que respondê-lo.
E isso provoca uma expectativa que leva o trabalhador a não desconectar.
O estudo entrevistou 567 pessoas que admitiram dedicar cerca de quase oito horas semanais para responder e-mails fora do horário de expediente.
Assim como todo excesso não faz bem.As consequências desse uso já são uma realidade.
Dependência que gera ansiedade
Para o autor do livro que aborda a hiperconectividade, La Gran Adicción (A Grande Dependência) do filósofo espanhol, Enric Puig Punyet, os inconvenientes dessa conexão já podem ser sentidos pela sociedade.
“Estamos num momento de hiperconsumo das novas tecnologias”, salienta.
E entre os resultados estão: Dependência, ansiedade e falta de gestão do próprio tempo.
E o filósofo vai mais longe.
“Deveríamos buscar uma sociedade que entenda que esta hiperconectividade é prejudicial para a saúde, como o tabaco”, reforça.
Nesta altura do texto, você se questionou sobre os problemas da hiperconectividade. Agora vamos aos seus impactos positivos.
Sem demonizar
Sabemos que estar conectados em qualquer lugar e a qualquer momento também tem seus impactos positivos.
E para muitos, as novas ferramentas agilizam o trabalho.
A hiperconectividade permite uma flexibilidade no momento de conciliar novas oportunidades de emprego e trabalhos que podem ser feitos de casa.
Segunda a psicóloga Anna Cox, diretora-adjunta do UCLIC (Centro de Estudos da Interação entre Humanos e Computadores do University College London (UCL), “a qualidade de vida dos trabalhadores melhorou, eles estão mais produtivos.
As novas tecnologias tiveram um impacto realmente positivo”, acrescenta.
Enfim, o tema da hiperconectividade nos norteia assim como as suas ferramentas.
Nada mais justo que exaltar o Direito francês de desconectar.
Mas inseridos neste ambiente como estamos, nos resta duas opções:
ou nos adaptamos dentro de cada um dos nossos espaços, ou escolhemos desconectar.
Você acha que é simples assim? Então entre na discussão. Comente
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